Entrevista: Como cuidar da saúde mental durante isolamento social?

Matéria de utilidade pública com colaboração da psiquiatra, hebiatra, pediatra e mestre em Psicologia Drª Ana Peixoto

Em meio ao contexto de isolamento social devido à pandemia do Coronavírus (Covid-19), o cuidado com a saúde mental é um dos enfoques possíveis considerando as consequências desse isolamento para o indivíduo.

Para introduzir o assunto, a psiquiatra, hebiatra, pediatra e mestre em Psicologia, Drª Ana Peixoto, pondera: “A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma não ter uma definição oficial de saúde mental. Nossa saúde está alicerçada em vários fatores, interdependentes entre si, e não significa apenas a ausência da doença”. Dito isso, a médica transmite sua versão: “se eu tivesse que conceituar saúde mental, diria que está baseada em como o indivíduo administra a própria vida e suas emoções diante de diferentes situações mantendo o valor do real e do precioso, valorizando a vida e respeitando o próximo. Ou seja, estar de bem consigo e com o outro, aceitando os desafios que a vida apresenta, aprendendo a lidar com as boas e, também, com as experiências desagradáveis. Reconhecer seus limites e saber pedir ajuda quando necessário”, completa.

A Drª Ana Peixoto respondeu mais dez questões no que se refere aos cuidados com a saúde mental, especialmente neste período de isolamento:

01. Como uma pessoa pode detectar indícios de que sua saúde mental não vai bem?

Resposta: Presença de alguns sintomas como: tristeza profunda, apatia, choro fácil, falta ou excesso de apetite, alteração do sono e de sua qualidade, irritabilidade, fadiga, revivências de traumas ou culpas.

02. O que a pessoa que já está com a saúde mental abalada devido ao isolamento social deve fazer?

Resposta: Pedir socorro, procurar ajuda. Há muitos serviços online, de apoio, e o isolamento está quase no fim. Se, ao final do período, a pessoa mantiver estes sintomas, sugiro buscar ajuda profissional. Mas, neste mesmo, procure algum conhecido, fale como está se sentindo e, às vezes, vai se surpreender de encontrar outros vivenciando estes mesmos sentimentos. Procure seu Pastor, seu Grupo de Assistência, seu familiar, mas não fique sozinho, e não tenha vergonha de verbalizar o que está sentindo nem o que está enfrentando.

03. Em uma realidade que se torna cada vez mais virtual para manter relações e cumprir compromissos, como cuidar da saúde mental e estabelecer limites?

Resposta: Nossa sanidade mental depende dos limites que estabelecemos para nós mesmos, mantendo o valor do real e do precioso, valorizando a vida e respeitando o próximo. Cada um vai exercer o livre arbítrio que nos foi concedido.

04. De que maneira o relacionamento com a família neste período pode ser um aliado para preservação da saúde mental? 

Resposta: De fundamental importância, lembrando que todos, nesta micro sociedade chamada família, temos nossa responsabilidade, a fim de tornar o ambiente agradável e de fácil convivência. Evitar comentários negativos e depreciativos. É necessário estabelecer horários de cumprir compromissos, mas também gozar dos momentos de lazer.

05. Quais cuidados são necessários neste período para que a saúde mental não seja afetada com relação à possível quebra de uma rotina e velocidade no modo de vida que o corpo já estava acostumado?

Resposta: Toda quebra de rotina causa estresse, até que haja uma adaptação ou a criação de uma nova rotina. Toda mudança nos afeta, mas o grau deste comprometimento depende dos mecanismos internos de cada um e de como enfrentamos os desafios que surgem. Se elaborarmos uma rotina adaptada à nova realidade de forma positiva, com certeza vamos minimizar nosso sofrimento.

06. Quais medidas são importantes para controlar a ansiedade diante das preocupações com o futuro que podem se agravar neste período?

Resposta: A cada dia basta seu mal, ou seja, viver um dia por vez. Aprender que não temos o controle de nada, apenas o Senhor. Não temos como prever o futuro. O momento é de autoavaliação: como temos vivido o presente, enfrentado nossos desafios, e nos tornarmos resilientes, prontos para um novo momento.

07. Para pessoas idosas que porventura não estejam familiarizadas com o ambiente virtual, esse fator pode gerar consequências de “não pertencimento” e afetar a saúde mental? Se sim, como lidar com isso?

Resposta: Com certeza sim, por isto devemos redobrar nossa atenção com eles. Eles precisam da orientação e dos cuidados de seus familiares, fazendo-os se sentirem respeitados e sabendo conviver com suas limitações.

08. As crianças também podem sofrer alterações em sua saúde mental devido a este isolamento? Como detectar sinais?

Resposta: Sim; diante de momentos como este, todos os grupos etários podem apresentar sinais de sofrimento mental. Na criança, precisa-se observar agravamento ou surgimento de comportamentos diferentes não notados anteriormente, por exemplo, irritabilidade, piora de birras, maior oposição, apatia, choro fácil, mudanças no apetite e no sono, e até mesmo regressões em seu desenvolvimento.

09. Para o estudante, como manter o foco nos estudos em casa?

Resposta: Sugiro fazer acordo sobre horário para estudar. Se estiver muito tedioso, permitir a criança ou adolescente realizar o compromisso escolar em etapas com intervalos de lazer. Importante lembrar que os pais e filhos precisam cumprir os acordos que foram pré-estabelecidos.

10. O que fazer para contribuir com a preservação da saúde mental dos filhos neste período de isolamento?

Resposta: Mantê-los informados de forma precisa e esperançosa, evitando o negativismo, para que eles percebam que estão vivenciando uma situação séria, mas passageira. Fundamental que eles percebam, em seus cuidadores, atitudes positivas para que não se sintam impotentes diante dos acontecimentos e evitando, assim, o surgimento de sentimentos como medo da morte ou ansiedade de separação.

Confira, também, mais ponderações sobre o assunto; ouça o áudio da entrevista realizada com a médica durante a programação ao vivo da Rádio Maanaim no dia 25 de abril de 2020, pelo locutor Kléber Corrêa.

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